sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz Ano novo!!!

Foto: Denis Nishimura A Passagem de ano no Brasil para um nikkei que vive mais no Japão é algo muito especial. Nós nikkeis, apesar de vivermos de ambos os lados estaremos condenados a nunca nos sentirmos plenamente felizes. As festas de fim de ano são uma oportunidade de descanso e confraternização entre amigos e parentes, mas o que fazer quando metade das nossas relações mais queridas estão no Japão e a outra metade no Brasil? Difícil responder...
No ano de 2010 passei o Natal com minha filha que mora no Brasil. Para mim é um momento único, já que só posso me encontrar com ela nas raras oportunidades em que viajo para cá. O Ano Novo também passamos juntos e foi muito bom... Para mim, os fogos, a música e a comilança estão em segundo plano... O mais importante é a chance de estar junto de quem amamos. Esse ritual de abraçar e beijar as pessoas queridas, para um nikkei tem um significado muito mais profundo. Sei que daqui a uns dias estarei voltando para o Japão e trabalharei lá por mais alguns anos. Sei que esse "simples" ato de estar junto de quem amo já não estará ao meu alcance... Essa metade das pessoas que amo vai ficar no Brasil. Em contrapartida, outras pessoas que estimamos e amamos estarão nos esperando no Japão. Quisera eu que todas as pessoas que amo estivessem sempre perto de mim...
Hoje minha amada filha está com 14 anos. Em maio deste ano ela completa 15... Quando eu voltar do Japão novamente ela estará com seus 17, ou 18 anos.
Tem uma frase do Renato Russo que diz: " É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, pois se você parar para pensar, na verdade não há..." Essa grande verdade sempre bate duro no meu coração.
Sei que o carinho e a oportunidade de viver esses momentos felizes não tem preço, mas também sei que o caminho que escolhi, no momento é a forma mais viável de concretizar meus objetivos e proporcionar para mim e para minha família um futuro mais seguro e confortável.
O que espero do da vida? A chance de lutar e conquistar estabilidade financeira. Tudo isso somado a saúde, Paz e Felicidade. É o que desejo para mim e é o que desejo para todas as pessoas que estão ao meu redor.
Que venha então 2011!!! Coroado de Bençãos, e Realizações!!!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Papai Noel dos trópicos

Desenho: Banco de imagens do Google
A lenda do Papai Noel todo mundo está careca de saber. Teve origem no hemisfério norte, onde Dezembro faz o maior frio. Lá atrás, a Coca-cola lançou um Papai Noel vestido de vermelho (até então as roupas do "bom velhinho" eram de outra cor). Uma jogada de marketing para fazer propaganda da marca e vender refrigerantes. Todo mundo sabe que a Coca-cola é um dos grandes ícones do capitalismo e sob sua influência muitas campanhas publicitárias foram veiculadas. Não é a toa que a imagem do Papai Noel se manteve intacta desde aquela época até os dias de hoje. Na contra-mão do bom-senso, o Papai Noel dos trópicos também veste aquela roupa vermelha de veludo, com gola e mangas de pêlo. Sem citar as botas... Coitados daqueles senhores gordinhos que fazem "bico" de Papai Noel no final do ano. No escaldante verão brasileiro, sob altas temperaturas, o infeliz está lá nas portas do comércio, longas horas de pé, balançando um sininho. Simula um sorriso sofrido e soltando aquele famigerado "ho ho ho" para as crianças. Quando a barba é natural, o desconforto com o calor fica intenso, mas é com a barba postiça que o PN sofre mais. Imagina aquele troço feito de algodão, ou sei lá o quê, amarrado com barbante, ou preso por um elástico apertando o rosto... Na parte da tarde o suplício é ainda maior... O PN vai almoçar. Descansa um pouco e volta a encenar o papel de bom velhinho. A feijoada, ou qualquer coisa mais pesada que tenha comido começa a fazer digestão. Há uma tendência a produção de gases intestinais e o velho gorducho começa a espremer a bunda para não peidar (ou fazer coisa pior) na frente das crianças. O suor começa a escorrer pelas costas e pelo rego indo parar nos fundilhos da cueca...
A empresa responsável pelos refrigerantes Dolly está veiculando uma propaganda com um Papai Noel vestido de verde. Achei meio esquisito, pois, desde que me conheço por gente, sempre mentalizei o Papai Noel vestido de vermelho, como a Coca-cola nos concebeu. Apesar de não aceitar muito um Papai Noel que não seja vermelho, ainda assim, achei a iniciativa da Dolly ousada e positiva, visto que ninguém ainda tinha se atrevido a fazer alguma alteração na sua imagem. Para nós brasileiros, a modificação que deveria ser feita seria uma espécie de "tropicalização" da indumentária do velho gorducho. Ainda que vermelho, mas com um tecido mais fresco e arejado.
Não venham me chamar de revolucionário, ou cruel... Aliás, cruel é fazer essa horda de coitados usarem gorro e grossos casacos e botas no calor do verão brasileiro.
Papai Noel de Shopping não sofre tanto, pois está sempre no conforto do ar-condicionado, mas Papai Noel de rua, aff... "PelamordeDeus", esses sofrem mais do que amendoim na boca de banguela.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Clima de Fim de Ano

Foto: Banco de imagens do Google Quando eu era criança, apesar das dificuldades, a gente sempre comemorava o Natal e Ano Novo em reuniões familiares. Os amigos da gente vinham passar as festas conosco e havia um clima diferente no ar. As dificuldades financeiras eram muitas, mas no fim de ano fazíamos pratos especiais, assados e saladas de maionese. Refrigerante era um luxo. Frango assado e churrasco também... Não ganhávamos presentes, mas estávamos felizes de alguma maneira. O final do ano proporcionava essa breve fase de Felicidade. Lembro-me de que quando findava Outubro e iniciava Novembro, as escolas já anunciavam as últimas provas do ano. Logo chegariam as férias. Logo chegariam as festas. A Rede Globo transmitia a tradicional vinheta de fim de Ano com aquela musiquinha:"Hoje é um novo dia de um novo tempo que começou..." Dava uma alegria interna como se fosse uma espécie de nirvana. O comércio decorava suas fachadas e vitrines com temas natalinos anunciando a proximidade do fim do ano. Apesar de todas as dificuldades, as vezes sinto como se essa época em especial fosse a única forma de me sentir Feliz. Guardo no coração as lembranças doces de todas as reuniões familiares que tivemos. Nessa época cessavam as implicâncias que meu pai tinha sobre mim. Havia uma certa harmonia entre eu e meus irmãos, então eu pensava: "As coisas poderiam ser sempre assim!" Nós parecíamos uma autêntica família. Apesar desses pensamentos, eu procurava afastar a certeza de que depois das festas a minha vida voltaria a ser o sofrimento de antes.
Com o passar do tempo nós crescemos. Os filhos sairam de casa, minha mãe faleceu, meu padrasto casou novamente e nunca mais senti aquela sensação de felicidade natalina outra vez.
As pessoas com as quais convivi depois, não valorizavam as festas de fim de ano e o clima de Natal e de ano novo se apagaram dentro de mim.
Espero um dia poder reacender essa chama que foi apagada a muitos anos atrás e viver novamente esse espírito de confraternização. Espero que uma vez acesa essa chama, que ela nunca mais se apague. Quero fazer isso não só por mim, mas por todos aqueles que vivem comigo. Para que compartilhemos juntos essa maravilhosa sensação de Felicidade, afinal, são só essas coisas que poderemos levar da vida.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A contradição nossa de cada dia

Foto: Banco de imagens do Google
A contradição existe em todos os lugares, mas tenho a impressão de que ela é muito gritante no Brasil. Pergunte a um estrangeiro qual a sua impressão do Brasil e em linhas gerais, ele responderá: "É um belo país, mas com gente extremamente rica num lado e com gente extremamente pobre do outro." Tais contradições podem ser vistas nas injustiças sociais, na política e nas situações mais corriqueiras do nosso cotidiano.
Por exemplo, quando há excesso no procedimento policial, vemos que os homens que são treinados e pagos para proteger a sociedade, muitas vezes fazem o papel inverso, tornando-se nossos algozes. Vejo a população temer a polícia. Por causa dos ladrões e bandidos, vivemos cercados por grades, quando deveríamos saber o verdadeiro sentido da palavra liberdade.
Já na antiguidade, a bíblia (bíblia com letra minúscula mesmo) nos narra conflitos e derramamentos de sangue "ordenados por Deus" e em nome desse deus os homens tomaram em suas mãos a liberdade de matar. (em ÊXODO 20:13 Deus dita o mandamento proibindo os homens de se matarem)
A lei do silêncio para quem não sabe vai das 22 horas até as 6 da manhã, isto é, se não a prolongaram até as 8 da manhã. No Bairro onde moro, tem noites de Quinta, Sexta, Sábado e Domingo que parece que estou numa Rave. O som é tão intenso que a minha janela de alumínio vibra. Não consigo nem assistir televisão.
Falando em contradição, tem muita propaganda na televisão mostrando uma família feliz e saudável, consumindo frituras. Uma famosa marca de Fastfood mostra pessoas saudáveis e alegres consumindo seus produtos. As mulheres maravilhosas das propagandas de cerveja nem de longe lembram os gordinhos bebedores de cerveja da vida real.
Quer ver situação terrível é quando você chega numa repartição pública, espera longas horas numa fila, escuta abobrinhas por todo lado, é um empurra-empurra, um espreme-espreme e quando chega a sua vez, você é mal atendido pelo funcionário de má-vontade... Na parede em lugar bem visível percebe-se um cartaz com os dizeres: "Artigo 331 do Código Penal: Desacatar funcionário público no exercício da função, ou em razão dela. Pena: Detenção de 6 meses a 2 anos, ou multa."
Ainda na linha de discussão sobre as contradições que presenciamos, alguém notou que os DVDs piratas vem com as mensagens: "Não compre DVD pirata" e "pirataria é crime", hahaha!!!Ainda me lembro que quando começou a onda do vale-tudo, tinha um cara que usava uma camisa com os dizeres: "atleta de Cristo" e ele era extremamente violento. Subia no ringue e surrava seus oponentes chegando a sangrá-los, coisa típica desse "esporte". Atleta de Cristo...Essa foi boa...
Vejo muita gente dizendo que anda passando necessidade. Dizem que não tem nem para comer, mas esses mesmos vivem com um cigarro aceso entre os dedos. Alguns, vez ou outra são vistos embriagados. Fico com pena, mas não consigo deixar de pensar que o dinheiro do cigarro e da pinga poderia servir para comprar um sanduíche, ou um litro de leite.
Como os gringos dizem, nosso país é um país de grandes desigualdades. Vejos as Petshops se multiplicando por aí. No Brasil onde muitas crianças passam fome, cães, gatos e periquitos comem ração balanceada. Xampu para cabelos custa 7 reais, enquanto xampu de cachorro custa 15 reais...
Não se admire se depois que você se formar, as empresas exigirem algum tempo de experiência. Oras, que contradição!!! Se nenhuma empresa te der uma chance de praticar seu ofício, de onde virá sua experiência???

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Novos nomes para velhos problemas

Foto: Banco de imagens do Google
As vezes tenho a sensação de que caí nesse mundo de pára-quedas. Fui inserido numa família de irmãos heterogêneos. Minha mãe, quando foi viver com o meu padrasto tinha a mim como filho de um casamento anterior. Eu tinha quatro anos na época. Meu padrato trouxe um menino quatro meses mais velho que eu e uma menina um ano mais nova. Posteriormente, meu irmão caçula nasceu. Ele era meu meio-irmão por parte de mãe e meio-irmão dos outros por parte de pai. Numa família de irmãos tão diferentes, não é de se surpreender que vivíamos num inferno. Em muitos momentos, não vivíamos, mas convivíamos uns com os outros. A minha vida em especial, era um tormento. Muitas vezes me senti um intruso naquela pseudo-família. Para as pessoas de fora, meu "pai" como eu sempre o chamei, nos tratava com igualdade. Essa era a filosofia que ele demonstrava. Essa era a imagem que ele passava... Nos bastidores, porém, a amarga realidade era bem diferente. Não é preciso surrar uma pessoa para marcá-la pelo resto de sua vida. Basta torturá-la com palavras e fazê-la sentir-se a mais inferior das criaturas. Pegue uma criança de quatro anos e jogue-a, indefesa no meio de outras. Humilhe-a, manipule situações onde todos se voltem contra ela. Faça-a crescer com a idéia de que ela é incapaz. Pronto. Dessa receita, você pode criar um monstro, ou uma pessoa com sequelas psicológicas para o resto da vida. Depois que meu irmão caçula nasceu, a minha vida tornou-se um suplício ainda maior. As coisas eram todas voltadas para ele. Ao mínimo chilique que ele tinha, nós éramos punidos. Tínhamos que cuidar do pestinha e aguentar todas as suas malcriações. Minha mãe criou-o dentro de uma redoma de vidro. Ele cresceu arrogante e egoísta. Hoje, infelizmente ela não está entre nós para ver o resultado de todo aquele mimo do qual ela me negou uma fagulha, mas que derramou abundantemente sobre ele.
Para mim, receber palavras como "burro, idiota, desleixado, vagabundo, incapaz" chegou a ser normal. Eu recebia tudo com certa resignação, afinal, como disse a minha mãe certa vez: "conforme-se, o seu santo não é mais forte do que o deles". Era muito ruim ser humilhado dentro de casa, mas era pior ainda ser humilhado diante das pessoas de fora. Dos amigos do meu pai, dos colegas de escola... Hoje tenho plena certeza de que não sofria de nenhum complexo de perseguição. Lembro-me claramente de todas as hábeis manobras que meu pai usava para me massacrar.
Paralelamente a todos os percalços domésticos, ainda tinha a escola rural onde estudei. Na época em que entrei lá, era o único descendente de japoneses. Ouvi vários comentários do tipo: "Você enxerga com esses olhos rasgados? Que coisa feia esse moleque, você nasceu do lado avesso? Por que você não volta para a China? Você não passa de um plantador de verduras!!! Volta para a sua terra, seu FDP!!!" Isso tudo somado aos diversos apelidos que me davam: " Chinês, japonês, japa, japoronga, amarelo, fu-manchu, jaspion..." Chamavam-me de tudo, menos pelo nome. Muitas vezes, quando não podiam me ferir com palavras, faziam aquele clássico gesto de puxar os olhos com os indicadores, fazendo uma careta para me caricaturar.
Sentia-me desamparado, pois se reclamasse, as outras crianças me dariam uma surra. Em casa, a única pessoa que podia me defender, fazia vista-grossa para as injustiças do meu padrasto.
Sem orientação e sem apoio, em muitos momentos senti vontade de dar fim a minha vida...
Para a minha "família" aquilo que eu hoje reconheço como depressão, para eles não passava de "frescura." Hoje muito se fala de BULLING. Na minha época já existia, mas a gente sofria muitas vezes calado, sem auxílio, sem defesa e sem orientação.
No ginásio conheci um anjo... Sabe aquelas pessoas que entram na sua vida, e te mostram que você é tão gente, tão importante e tão capaz quanto qualquer outra pessoa? Meu professor de Português. Sua simplicidade escondia a sua extensa bagagem cultural e sua sabedoria. Ele talvez tenha sido a primeira pessoa que me compreendeu como eu precisava, que me mostrou que eu não era inferior a ninguém... Me instruiu na sua matéria, mas também me mostrou o caminho para a vida. Acho que se não fosse ele e seus ensinamentos, talvez eu hoje fosse uma vaga lembrança do passado. Ele foi um anjo que me estendeu a mão quando eu estava na quinta série, mas somos amigos até hoje. Termino o texo por aqui... Acho que ainda não consegui exorcisar os demônios do passado e as lágrimas me impedem de prosseguir redigindo.