Ontem, estava eu na loja onde trabalho quando o telefone toca:
-“Alô, da ondi tá falando?” (Oras, se ele me ligou a pergunta seria: É da loja tal?)
Respondi-lhe educadamente que era da loja tal...
-“Sabe o qui é... Eu tô ligando lá no Aguiar Auto Escola, mas não tá atendendo...” (E ele achou de ligar aqui!!!)
Deu vontade de dizer “E o Kiko?”
Talvez estejam em horário de almoço, respondi-lhe.
-“Então, sabe o qui é... Perdi tudo os meu documento. Minha carteira sumiu com o Gaijin Toroku e a carta de motorista...” (Putz... E o que eu tenho a ver com isso, pensei!!!) E o Kiko de novo!!!
Vai na polícia, disse-lhe educadamente, e faz um boletim de ocorrência. Depois vai na prefeitura da sua cidade e pede a reemissão do Gaijin Toroku. Depois vai em Hirabari para pedir a reemissão da Carta de motorista.
-“E como eu faço isso?” (Senhor, dai-me paciência!)
Procura um posto policial, ou uma delegacia e faz um TODOKE (aviso), respondi-lhe pacientemente.
-“Saquié... Eu não falo nihongo... Cê podia falar para mim”
Posso sim, respondi-lhe solícito. (mas com a sensação de que estava numa pegadinha)
-“Então tá... Eu vou desligar... Vou na polícia e depois eu te ligo tá? Qual é o seu número?” (Ele me ligou e não sabia o meu número? Comecei a reforçar a idéia de que era trote... Ou pegadinha).
Você tem como anotar aí? Perguntei-lhe.
“Não tenho como anotar, mas eu decoro... Pode falar...” (Putz, é pegadinha, ou trote mesmo...)
Falei o número e ele pediu-me para que repetisse várias vezes... Acho que umas dez vezes pelo menos. Até que ele decorou...
-“Então tá... Eu vou lá na polícia e depois te ligo para você falar com o policial, viu...” (Ele já tinha me dito isso antes).
Tudo bem. Pode deixar que eu falo, disse-lhe.
-“Então tá... Você vai lembrar, né... Eu tô indo na polícia e daí eu passo o telefone para o policial e você conversa com ele, tá?” (Essa era a terceira vez que ele dizia a mesma coisa).
Bem... Ele conversou basicamente sobre o quanto estava desesperado por causa dos tais documentos e que precisava fazer alguma coisa, mas que não sabia falar japonês... Repetiu várias vezes o teor da conversa e então desligou. Depois de conversar tanto, acho que ele esqueceu o meu número, pois como ele havia dito que não tinha como anotar, parece que havia decorado momentaneamente aquela informação.
Depois de um tempo (quando eu pensei que tinha me esquecido), ele me ligou...
“Então, eu tô aqui com o policial, cê pode falar com ele?”
Expliquei que a pessoa em questão havia perdido os documentos e tal e o policial disse que iria fazer os devidos procedimentos...
Até hoje ainda estou com a sensação de que ele estava fazendo hora com a minha cara, mas pelo sim, pelo não, não me custa fazer uma boa ação...