quarta-feira, 29 de junho de 2011

Telefone


Ontem, estava eu na loja onde trabalho quando o telefone toca:


-“Alô, da ondi tá falando?” (Oras, se ele me ligou a pergunta seria: É da loja tal?)


Respondi-lhe educadamente que era da loja tal...


-“Sabe o qui é... Eu tô ligando lá no Aguiar Auto Escola, mas não tá atendendo...” (E ele achou de ligar aqui!!!)
Deu vontade de dizer “E o Kiko?”


Talvez estejam em horário de almoço, respondi-lhe.


-“Então, sabe o qui é... Perdi tudo os meu documento. Minha carteira sumiu com o Gaijin Toroku e a carta de motorista...” (Putz... E o que eu tenho a ver com isso, pensei!!!) E o Kiko de novo!!!


Vai na polícia, disse-lhe educadamente, e faz um boletim de ocorrência. Depois vai na prefeitura da sua cidade e pede a reemissão do Gaijin Toroku. Depois vai em Hirabari para pedir a reemissão da Carta de motorista.


-“E como eu faço isso?” (Senhor, dai-me paciência!)


Procura um posto policial, ou uma delegacia e faz um TODOKE (aviso), respondi-lhe pacientemente.


-“Saquié... Eu não falo nihongo... Cê podia falar para mim”


Posso sim, respondi-lhe solícito. (mas com a sensação de que estava numa pegadinha)


-“Então tá... Eu vou desligar... Vou na polícia e depois eu te ligo tá? Qual é o seu número?” (Ele me ligou e não sabia o meu número? Comecei a reforçar a idéia de que era trote... Ou pegadinha).


Você tem como anotar aí? Perguntei-lhe.


“Não tenho como anotar, mas eu decoro... Pode falar...” (Putz, é pegadinha, ou trote mesmo...)


Falei o número e ele pediu-me para que repetisse várias vezes... Acho que umas dez vezes pelo menos. Até que ele decorou...


-“Então tá... Eu vou lá na polícia e depois te ligo para você falar com o policial, viu...” (Ele já tinha me dito isso antes).


Tudo bem. Pode deixar que eu falo, disse-lhe.


-“Então tá... Você vai lembrar, né... Eu tô indo na polícia e daí eu passo o telefone para o policial e você conversa com ele, tá?” (Essa era a terceira vez que ele dizia a mesma coisa).


Bem... Ele conversou basicamente sobre o quanto estava desesperado por causa dos tais documentos e que precisava fazer alguma coisa, mas que não sabia falar japonês... Repetiu várias vezes o teor da conversa e então desligou. Depois de conversar tanto, acho que ele esqueceu o meu número, pois como ele havia dito que não tinha como anotar, parece que havia decorado momentaneamente aquela informação.

Depois de um tempo (quando eu pensei que tinha me esquecido), ele me ligou...
“Então, eu tô aqui com o policial, cê pode falar com ele?”

Expliquei que a pessoa em questão havia perdido os documentos e tal e o policial disse que iria fazer os devidos procedimentos...
Até hoje ainda estou com a sensação de que ele estava fazendo hora com a minha cara, mas pelo sim, pelo não, não me custa fazer uma boa ação...


quinta-feira, 9 de junho de 2011

BULLYING = IJIME

Desenho: Banco de imagens do Google Existem problemas que passam de geração em geração. A cada geração porém, as pessoas se dão conta de que algo tem que ser feito. O Bulliyng é algo tão antigo e está em todos os lugares. Cabe a cada um de nós fazermos alguma coisa para que esse problema não se propague. Crianças que tem problemas de relacionamento e famílias mal estruturadas em geral são protagonistas de atos terríveis contra aqueles que são obrigados a compartilhar o mesmo ambiente. Não posso deixar de citar que o caráter e a predisposição à maldade são fatores que contribuem grandemente para tais demonstrações de imaturidade. Um outro fator que também deve ser considerado é o excesso, ou a falta de afeto. Se por um lado a falta de compreensão e carinho levam uma criança a tornar-se menos sociável, o excesso de afeto e a extrema permissividade podem transformar uma criança num monstro capaz de coisas que surpreenderiam até os educadores mais experientes.
Aqui no Danchi onde moro tem um garoto desse naipe. Terrível, no mínimo é uma palavra que talvez melhor se ajuste à sua pessoa. Tem cerca de 11, ou 12 anos. Acha-se no direito de bater nos mais fracos e falar desaforos para as meninas. Vive acuando os mais pequenos e se julga acima de qualquer regra. Já agrediu até a professora em sala de aula. A mãe parece que faz conivência com as atitudes dele, pois ao que me parece, recebeu as reclamações da escola com extrema insatisfação, sempre procurando defender o seu rebento. Ontem, minha sobrinha, que estuda na mesma sala chegou chateada pois o referido indivíduo deu uma joelhada nas costas dela... Essa inexplicável agressividade gratuita pode causar danos nos outros alunos que são obrigados a conviver junto com ele. Danos físicos e psicológicos. Conversei com a direção da escola e fui informado que o tal moleque é muito problemático, mas que eles estão fazendo o possível para doutriná-lo. Na minha opinião ele deveria ser colocado numa instituição própria para crianças com o perfil dele. Ele já foi visto surrando um garoto menor. Quando foi indagado do porquê de tal agressão, ele se defendeu dizendo que foi provocado. Acho inadmissível os pais desse garoto não tomarem nenhuma providência. Ontem abordei-o na rua. Dei uns toquinhos com a mão no ombro dele para chamar sua atenção e mostrando minha sobrinha disse-lhe em japonês: Não é para tocar nela!!! Não é para falar com ela!!! Entendeu???!!! Ele na sua arrogância virou a cara como se o assunto não lhe dissesse respeito. Então dei mais uns toquinhos no ombro dele (coisa do tipo “ei, estou falando com você”) e disse-lhe: Endendeu??? Na hora ele pegou o celular e disse para apessoa que o atendeu: “Tem um cara aqui... Chegou e me empurrou e bateu em mim...”
Incrível como esse tipo de criança maldosa sabe fazer papel de vítima.
Já ouvi falar de japoneses fazendo Ijime com brasileiros, mas um garoto brasileiro fazendo ijime com outras crianças brasileiras é a primeira vez.
A direção da escola me informou que vai conversar com a família do famigerado garoto. “Yousu o mimashou” foi o que eles disseram. Algo do tipo: “Conversaremos com a família e vamos aguardar para ver como as coisas se desenrolam.”
Espero que a escola resolva, caso contrário, teremos que passar pelo dissabor de ter que conversar diretamente com os responsáveis por ele, ou pior... Ir à polícia, ou coisa semelhante.
Prefiro resolver as coisas da maneira mais civilizada, mas acho que a justiça está aí para isso. Não somente eu, mas todas as pessoas que não toleram a truculência do Bullying podem e devem fazer algo antes que o mal não tenha mais conserto.

domingo, 5 de junho de 2011

Despojando-se da carapuça de coitado

Foto: Banco de imagens do Google

Em qualquer lugar do mundo onde você vá, seja no Brasil, ou no Japão, encontra-se pessoas que estão precisando de algum tipo de ajuda. Seja ajuda financeira, seja ajuda psicológica... Tem gente que usa a palavra coitado de maneira indiscriminada. Tem pessoas que dizem: “Coitado de fulano” como se ele fosse realmente um coitado no sentido literal da palavra. Oras, coitado para mim é aquele indivíduo que está numa situação da qual não pode se defender. Coitado é aquela pessoa desprovida de instrução, de meios financeiros para subsistência e que não pode fazer nada para mudar a própria situação. Esse sim é coitado!!! O adjetivo coitado não se aplica as pessoas com os seguintes requisitos:


  • Pessoas que gozem de plena saúde física e psicológica e que justamente por isso podem e devem procurar algo de útil para fazer.

  • Pessoas que possuem um mínimo de inteligência para dialogar e buscar recursos.

  • Pessoas que mesmo tendo disponibilidade de batalhar para ganhar a vida preferem a ociosidade e a compaixão dos outros.

  • Pessoas capazes, mas que, por complexos, ou caprichos se acham incacitadas de mudar a própria situação.

  • Pessoas que desperdiçaram chances valiosas de fazer algo da vida e que caem em dificuldade financeira.

  • Pessoas que mentem e usam meios desonestos para ganhar a compaixão dos outros.

  • Pessoas necessitadas que mesmo em situação financeira desfavorável querem manter pose de rico. Sua arrogância os fazem desperdiçar qualquer ajuda que venhamos a dispender em seu favor.

Existem muitos outros fatores que desqualificam uma pessoa da categoria dos coitados.


As características acima devem nos fazer pensar bem antes de usarmos a palavra coitado para nos referirmos a alguém. Agora, o mais importante de tudo é saber identificar corretamente quem precisa (e merece) ser ajudado. Existe muita gente por aí que por comodismo, ou por falta de consciência veste uma “carapuça” de coitado e fica mendigando a compaixão alheia. Gente carente de afeto, de auto-estima e de orientação. Essas pessoas não sabem, mas isso faz com que as pessoas se afastem delas. Ninguém gosta daquelas pessoas que vivem constantemente com uma nuvenzinha negra pairando sobre sua cabeça. Pessoas que transmitem tristeza e melancolia. Pessoas que infectam o ambiente com seu pessimismo e que não acrescentam nada de bom nem para si e nem para os demais. Conheço gente que tem muito potencial, mas que vivem reclamando da vida. As vezes tenho vontade de pega-las pelos ombros, dar um chacoalhão e dizer: “Tira essa carapuça de coitado e acorda para avida!!! Pára de reclamar e vai fazer algo que efetivamente vai te tirar do buraco!!!”


Lembro-me que certa vez conheci uma moça que havia sofrido um acidente de trem. Ela teve uma das pernas amputadas na altura da coxa. Andava com uma perna mecânica e levava uma vida relativamente normal. Trabalhava, tinha uma vida independente, mas sentia uma necessidade muito grande de contar para as pessoas sobre o seu problema. As pessoas não tocavam no assunto. Era sempre ela que entre lágrimas narrava sua desventura.


Outro caso típico foi de um rapaz que num dia chuvoso apareceu no meu trabalho todo encharcado. Na verdade ele poderia usar um guarda-chuva, mas preferia não fazê-lo para despertar a dó das pessoas. Disse que precisava ir andando senão não chegaria a Toyohashi naquele dia (Toyohashi fica a uns 60 kilômetros daqui). “Vai ser uma caminhada de umas 5 horas, mas eu chego!” Bem... Faça as contas: Um ser humano anda em média 6 kilômetros em ritmo rápido. Para chegar em Toyohashi ele gastaria 10 horas... Outro dia ele passou por aqui dizendo que estava a alguns dias sem comer, mas que não gostava de comida brasileira... A impressão que tenho é que ele gosta de vestir essa carapuça de coitadinho.


Quando éramos crianças, algumas vezes sentíamos aquela sensação de solidariedade quando alguém dizia: “Coitadinho, se machucou?” Essa sensação nos dava alívio e conforto, mas ela só é positiva enquanto somos indefesos. Devemos nos despojar dela no decorrer do nosso desenvolvimento. Algumas pessoas carregam essa carapuça pela vida toda, seja por se sentirem incapazes, seja para viver da compaixão dos outros...


Eu já ajudei algumas pessoas que não mereciam por falta de entender esse mecanismo, mas hoje creio estar mais preparado para identificar o verdadeiro coitado. Não que meu coração esteja mais duro, não é isso. Talvez eu esteja ficando menos bobo.


Um outro ponto a frisar é que as vezes, os coitados são os que menos precisam de ajuda. Um amigo, ou parente em dificuldades pode estar longe de ser um coitado, mas é digno de ser ajudado pois em situações de dificuldade devem existir duas ações:



  1. O indivíduo receber a ajuda.

  2. O indivíduo predispor-se a ajudar a si mesmo!!! Afinal, não é nada legal você ajudar uma pessoa e ela mesma não se ajudar.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Vampiros existem!!!



Foto: Banco de imagens do Google
A afirmativa que põe título a esta postagem a primeira vista pode parecer bobagem, mas lendo mais adiante, mesmo os céticos poderão comprovar o que digo.
Não estou me referindo àqueles personagens míticos da literatura e dos filmes de terror, mas àqueles indivíduos que se aproximam da gente e sugam a nossa energia de maneira sutil, porém nociva. No Japão, como em qualquer lugar do mundo a gente se depara com pessoas desse tipo.
Quem não tem uma lembrança de estar bem em determinado dia e de repente uma pessoa chega te contando um problema e despejando uma tonelada de carga depressiva em você? Quando essa pessoa vai embora, você tem a sensação de que está cansado, fraco e desanimado... Tem aqueles outros que te manipulam e quando você menos espera, está sendo sugado economicamente. Estes te pegam coisas emprestadas e demoram para devolver, isso quando devolvem. Pedem empréstimos sem muito constrangimento. Alguns acham que se você tem mais do que eles é injustiça e que você, por estar em melhor situação tem “obrigação” de ajudá-los.
Tem uma outra categoria de vampiros que se alimentam do sangue que escorre de feridas psicológicas. Plantam a discórdia e o mal-entendido com comentários maléficos e saboreiam de camarote o sofrimento alheio. Tem aquele tipo de vampiro que gosta de ver pessoas assassinadas, ou acidentadas. Sua mente grava todos os detalhes para que ele possa posteriormente narrar com inexplicável prazer todos os detalhes do sofrimento das vítimas e se regozijar com isso.
Um tipo muito comum de vampiro é aquele que além de fofoqueiro é papa-defunto. Sabe de todo mundo que está doente. Conhece todos os pormenores dos moribundos e sente-se imensamente comprazido em narrar todos os detalhes a quem quer que queira compartilhar de suas informações. Muita gente não sabe, mas o contato com esses indivíduos faz mal para a saúde, pois nos induz a depressão, ao desânimo, além de prejudicar o bom andamento das nossas vidas.
O que fazer para ficar a salvo deles? Eu diria que em primeiro lugar se apegar em Deus, que é o Grande Arquiteto do Universo e que debaixo de suas asas certamente estaremos seguros. A segunda dica é NUNCA estar na mesma sintonia. Sempre que um deles te trouxer uma carga de depressão, simplesmente não tome-a para si. Nunca compactue com suas idéias. Nunca fale que as coisas estão ruins e tente levantá-la desejando o seu bem. Um vampiro psicológico muitas vezes não sabe que é um doente. Na maioria das vezes faz coisas ruins inconscientemente. Por isso não merece que fiquemos com raiva deles.
O mundo é uma escola e os elemento ruins são os meios que o universo nos impõe para que possamos amadurecer e evoluir. Lendo tudo isso, creio que você também perceberá que em sua volta existem alguns vampiros, mas ao invés de sair cravando uma estaca de madeira no peito deles, apenas saiba como se defender anulando assim os efeitos nocivos de sua ação.