domingo, 9 de dezembro de 2012

Retrospectiva 2012

Foto: Banco de imagens do Google

Esses dias estávamos em Agosto... Tive muitos problemas de ordem pessoal e quando vi já estava em Dezembro. Gente, desculpem-me mas não tive condições de postar nada em Setembro, Outubro e Novembro... A imagem acima casa bem com a sensação de longa jornada que é essa minha vida de Japão. Vi na internet esses dias alguém perguntando ”como foi o ano de 2012 para você?” Se eu fosse responder de maneira bem sucinta eu diria: Foi foda!!! Desculpem os mais pudicos, mas essa resposta foi a que mais se ajustou ao meu ano de 2012. Não que não tenham acontecido coisas boas, mas aconteceram uma sucessão de coisas não muito boas que ao meu ver, em quantidade, foram incomuns na minha vida.
Sei que a vida de todo mundo é corrida... Também sei que tanto no Brasil, quanto no Japão, em geral as pessoas enfrentam problemas, mas para mim, esse ano foi incomum.
  -Em Janeiro comecei o ano contraindo Influenza... Fiquei alguns dias de molho, com todos aqueles sintomas chatos que uma gripe forte pode causar... 
  -Tive alguns desentendimentos com familiares. Tem um monte de gente querendo se apossar do meu sítio no Brasil, e acho que vou acabar perdendo mesmo... Mas se não houver jeito mesmo, farei uma doação para alguma instituição de caridade. Essas instituições de caridade geralmente possuem advogados ferozes que ganham qualquer causa...
  - Além da loja que toco em Aichi, trabalho fazendo transporte de funcionárias para uma grande empresa: A Belltech. O meu trabalho vai bem, obrigado. Minhas chefes são muito educadas e meu senpai (colega veterano) é muito prestativo comigo. O problema reside em algumas das minhas passageiras que nunca estão satisfeitas com nada... Se ando depressa (note bem que, ninguém exceto aqueles japinhas bem velhinhos andam a 30, ou 40 por hora), algumas passageiras reclamam... Não reclamam diretamente para mim, geralmente ligam no escritório fazendo queixa... Se ando devagar essas mesmas também reclamam... Se ligo o rádio reclamam... Se não ligo, algumas sentem falta... Se ligo o ar condicionado, umas reclamam... Se não ligo, reclamam... Rsrsrs... Vai saber... Bem... Se não consigo agradar a todas, pelo menos tento fazer o meu trabalho o melhor possível... Tenho carinho e respeito por todas elas.
 - Quando retomei meus estudos na Unip, fiquei completamente perdido... Fiquei afastado por um ano e ainda assim, sinto-me meio perdido ainda. A minha sorte é que tenho colegas de turma maravilhosas que sempre me dão um apoio. Procuro retribuir me esforçando o máximo na realização dos trabalhos em grupo. Apesar do prazer que sinto estudando matérias como literatura, Ciências sociais e linguística, conciliar a faculdade com os outros compromissos, por vezes, quase me deixa louco.
  -Nesse ano conheci muita gente... Algumas pessoas que realmente valeram a pena e que acrescentaram muita coisa na minha maneira de ver o mundo. São pessoas que não vivem naquela mentalidade do funcionário de fábrica. Apesar de trabalharem em fábrica, muitas pessoas possuem uma vasta bagagem cultural: Conhecem muitos países, falam outros idiomas, como francês, italiano, inglês e espanhol... Alguns tem formação superior... Eles falam de trabalho, mas o assunto não se restringe ao “eu faço mais peças que você, eu sou o Bam-bam-bam, eu faço muito zangyou, eu tenho muitos anos de Japão...” 
Tem gente que quando conversa nos dá uma aula de vida... Isso me faz lembrar uma citação que ouvi certa vez: “Pessoas vazias me dão sono...”  Pois bem... Ganhei alguns amigos, perdi outros... Alguns não farão falta, outros porém, será uma pena não poder beber mais na fonte de seus conhecimentos...
  -O clima entre Japão e China não andou bem, por causa de umas ilhas próximas a Taiwan. O governo Japonês diz que as ilhas são do Japão. A china reivindica seus direitos sobre o local. Acendeu-se mais uma vez uma velha rivalidade e abriu-se novamente antigas feridas. Esses impasse está afetando a economia por aqui. Já falou-se de crise, de queda nas bolsas, mas ninguém falou de solução.  Esperamos que o panorama econômico melhore já a partir de Março do próximo ano. Aqui no Japão as pessoas andam meio preocupadas. A crise de 2008 deixou muita gente apreensiva. A verdade é que o futuro é incerto e as pessoas não gostam muito desse clima de insegurança.
Falando em segurança, tenho acompanhado as notícias sobre a onda de violência no Brasil e fico preocupado. Ato contínuo... Trabalhamos muito para construir uma vida no Brasil... Mas... Será esse Brasil de violência para o qual estamos tão desejosos de voltar? Nossa Pátria Amada, mas tão maltratada e tão jogada ao descaso pelos nossos governantes... Espero que as autoridades façam alguma coisa para devolver a Paz para as pessoas.
  -Já faz um tempo estou sentindo uma dor terrível nas costas. Tem tempos em que ela acalma, mas tem horas que a dor é insuportável. Fui no massagista... Fui no acupunturista... Bem... Como paliativo para a dor foi muito bom, mas eu queria solução. Fui no Ortopedista e fiz vários exames, incluindo uma Ressonância magnética... Resultado: Hérnia de disco em dois pontos na região lombar. A boa notícia é que segundo o médico, esse tipo de hérnia é bem “comum” e no estado que está pode sarar. Restrições? Não posso pegar peso e nem fazer atividades muito intensas...

Mas nem tudo são pedras no caminho... Esse ano me trouxe novas mudanças: Mudei de casa, agora estou morando mais próximo a loja. A loja também mudou para um local mais amplo onde poderemos atender melhor os nossos clientes. Estou findando mais um semestre da faculdade (agora preciso correr atrás de um estágio)... Minha filha que antes relutava em vir ao Japão, enfim resolveu vir me visitar... Fiquei muito feliz!!! E enfim, a última boa nova: Vou ser pai novamente.




quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Somos todos brasileiros

Foto: Arquivo pessoal
No mês passado o Corinthians venceu a Taça Libertadores da América. Um grande feito e inegavelmente houve um trabalho forte no sentido de preparar os atletas para a conquista de um resultado tão almejado e tão importante. Sou torcedor do São Paulo Futebol Clube e acima de tudo, um brasileiro que torce pelos brasileiros. Fico feliz quando meu time vence, mas nunca concordei com a bestialidade das torcidas... Nunca concordei com a rivalidade levada até as últimas consequências... Odeio os apelidos ofensivos com os quais as torcidas de alfinetam mutuamente. Essa coisa de ficar chamando o torcedor de “Bambi, Gambá, Porco...” Desculpem-me os mais folcloristas, mas eu não aceito esse tipo de troca de ofensas. Imagino quão maravilhoso o mundo seria se as pessoas trocassem gentilezas ao invés de palavras rudes. Ainda me lembro de alguns trechos do Mahabarata, da literatura indiana. Muitos homens e deuses tomaram lados opostos numa guerra, mas havia um clima de respeito, onde mesmo sendo tecnicamente inimigos, eles trocavam palavras cavalheirescas antes de se confrontar.

Pela primeira vez na vida, pisei num estádio de futebol. Apesar de ter nascido no Brasil, só fui ter a oportunidade de entrar num estádio agora, depois de tanto tempo. Já não tenho o mesmo entusiasmo, mas a emoção foi especial. Diferentemente do Coliseu de Roma, neste centro de espetáculo os atletas se confrontam de maneira mais saudável. A selvageria dos gladiadores muitas vezes acontece nas arquibancadas, ou nos arredores do estádio. Felizmente esse tipo de coisa não acontece por aqui.
Felizmente, no Brasil as coisas parecem que estão mudando. hoje casais estão se beijando ao se verem no telão e crianças já podem assistir aos jogos sem muito receio.

O estádio de Toyota é simplesmente magnífico. Olhando de fora, a estrutura de concreto e aço impressiona pelo tamanho e pelas formas modernas de sua arquitetura.
Caminhando por dentro, nota-se a limpeza e o conforto para os espectadores. A proximidade com o campo é bacana e proporciona uma boa visualização de toda sua extensão. Dá para ver os jogadores bem de perto, pois só há uma pequena cerca e não os alambrados que estamos acostumados a ver segurando o ânimo dos mais fanáticos.
Das arquibancadas pude imaginar a emoção dos espectadores. Há um clima gostoso de desporto no ar. Senti uma sensação doce de Felicidade em saber que times brasileiros jogaram aqui. O Corinthians jogará em Dezembro nesse estádio. Independentemente dos times que se apresentarão aqui, acho que o que vale é o espetáculo.

domingo, 15 de julho de 2012

Vivendo a Vida

Vídeo: “Vamos Fugir” - Skank  (A special reference to STK)
Depois de mais de 20 anos de Japão, trabalhando duro para tentar dar uma melhoradinha na vida percebi que não conheço o país no qual moro já faz metade da minha vida. No começo a sede de juntar dinheiro para comprar uma casa, depois para buscar estabilidade financeira me guiaram para trabalhar diligentemente e economizar o que podia. Hoje vejo que eu podia ter sido um pouco mais equilibrado e vivido um pouco mais também. Podia ter aproveitado a chance de estar neste país fantástico e fazer um pouquinho de turismo. Conhecer lugares interessantes e desfrutar de pequenos prazeres a muito esquecidos por mim... Viajar de carro, de ônibus, trem, ou trem-bala... Adquirir bagagem cultural e fotografar bastante. Sentir a brisa do mar tocando meus cabelos e afagando meu rosto... Respirar o ar das montanhas e beber a água das fontes... Vislumbrar paisagens de tirar o fôlego... Sentar debaixo de uma árvore e fazer um piquenique... Sentir a alegria das pessoas do interior... Visitar lugares famosos e conhecer o seu conteúdo histórico... Hoje depois de muitos anos resolvi me dar o direito de viver um pouco e me permitir fazer todas essas coisas. O vídeo acima exprime bem o desejo que dormia latente em meu peito. Resgatar a Alegria a tanto tempo apagada... Viver a vida de maneira mais intensa sem deixar as minhas responsabilidades de lado... Resgatar cada fagulha de entusiasmo e emoção que estavam mofando dentro de mim e redescobrir a vida!!!
Tenho um desejo muito forte de fazer um grande acervo de imagens digitais do Japão para posteriormente imprimir e decorar minha casa, ou publicar um livro... Tenho consciência de que tenho muito trabalho pela frente, mas ultimamente gostaria de desacelerar e viver um pouquinho mais. Já faz algumas semanas que reservo o Domingo para descansar e dar umas voltas. Não atendo telefonema nem do Papa Bento XVI!!!
No fim das contas percebi que posso continuar sendo um sujeito trabalhador sem no entanto deixar de aproveitar a vida. Na Segunda-feira começa tudo de novo, mas o sabor das coisas maravilhosas que vivi no final de semana me entusiasmam e me dão fôlego para enfrentar outra jornada e aguentar até o próximo Domingo.


domingo, 24 de junho de 2012

Coração forte, mas nem tanto...

Foto: Banco de imagens do Google
Tenho muitos conhecidos, muitos parentes, alguns colegas e uns poucos Amigos. Dentre todas essas pessoas, no entanto, talvez apenas umas duas ou três me conheçam de verdade. Para algumas, eu sou aquele cara que está sempre de bem com a vida, alegre, otimista e trabalhador. Meus parentes e conhecidos dizem que sou um cara batalhador, incansável, corajoso... Uma fortaleza... Confesso que fico envaidecido com esse tipo de comentário. Trabalhei duro a vida inteira e chega um momento que a gente quer algum reconhecimento. Durante essa minha vida aprendi a levar pancada e a superar... Aprendi a cair e levantar... Tornei-me forte até certo ponto, mas tenho que ser sincero...As vezes eu fraquejo. 
Já estive inserido nos mais diversos ambientes de trabalho: Trabalhei na roça, quando garoto, trabalhei fazendo terraplanagem na base do carrinho de mão, da pá e da enxada... Cuidava de criação na chácara dos meus pais, onde cresci. Cuidava das hortas... Fui ajudante de jardineiro, lenhador, servente de pedreiro, pintor, ajudante de eletricista, ajudante de carpinteiro de obras, pintor e montador de placas publicitárias, letrista, funcionário público, funcionário de escritório, faxineiro, vendedor, segurança, professor de Karatê...
No Japão fui operário de linhas de montagem, kensa, torno, pintura, baritori, produção e inspeção de peças para a Toyota (Denso, Asahi Garasu), fui garçon de churrascaria, fui eletricista de caixas de distribuição de força, fui intérprete e tantousha, fui motorista, fui lojista...
Bem... Isso dá uma idéia de como tive contato com os mais variados tipos de pessoas... Com essas pessoas aprendi muito. Também me machuquei bastante. No final das contas, muitas vieram para acrescentar algo na minha vida. Com o tempo aprendi que as pessoas que não tem nada a ver com a gente não podem nos magoar. Um comentário maldoso, uma mentira que digam a meu respeito, ou uma calúnia só me desestabilizam momentaneamente. Para superar esse tipo de percalço eu estou preparado. As únicas pessoas que realmente conseguem me magoar são aquelas que lhes tenho em alto patamar de consideração... Para elas, o meu coração está aberto e vulnerável...
Minha filha está em plena adolescência. Ela nem imagina o Amor que sinto e lhe dedico. As vezes ela me trata de maneira fria, indiferente. Tenho que admitir que nessas horas eu me sinto fraco...
Quando temos algum desentendimento com quem amamos, parece que o mundo desaba sobre nossas cabeças e se essa bruma não se desfizer plenamente, sentimos como se tivéssemos sido atingidos por uma granada. Mesmo que um médico nos opere, temos a sensação de que ficaram alguns estilhaços...
O Amor é uma faca de dois gumes: Ele nos levanta e nos ajuda a viver de maneira mais intensa, mas esse sentimento também tem o poder de nos derrubar e converter o dia mais ensolarado na noite mais sombria de todas. Não é a toa que muita gente depois de uma desilusão amorosa entra em processo de depressão profunda.
Para muita gente, viver no Japão é mais complicado, pois muitos tem dificuldade de se relacionar com outras pessoas. Não há o apoio dos poucos amigos que tinham no Brasil... Não há o apoio dos parentes... Muitos vivem sozinhos no meio da multidão. Não tarda a melancolia, a amargura e a manifestação se sintomas de esquizofrenia... As vezes sinto que estou muito perto de ficar assim... As vezes acho a linha da razão e da irracionalidade muito tênue... Talvez seja a fase que estou passando agora...
Continuarei tentado ser uma pessoa melhor a cada dia... Tentando ser bom para o meu próximo... Disso tenho plena certeza. Continuarei ignorando a maldade alheia... Posso no máximo ficar indignado.
A única coisa da qual ainda não consigo ter controle é esse sentimento de impotência quando me desentendo com as pessoas que amo...

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Anjos existem!!!

Foto: Arquivo Particular

Quando ganhamos consciência do mundo, a gente ainda não sabe de todos os percalços que a vida nos impõe. Temos nossos pais como educadores e as pessoas que nos cercam como referência. Nasci e cresci numa família heterogênea (pais que vieram de outros relacionamentos e formaram uma nova família). Tenho um meio-irmão, um irmão e uma irmã de criação. Dificuldades a parte, minha vida sempre foi marcada por divergências de opinião e convivência problemática num lar onde eu me sentia um intruso.Conquistar um lugar em minha própria casa nem sempre era tarefa fácil. Acho que lá em casa todos nós sofremos, mas tenho consciência de tudo o que passei naquela pseudo-família. Tudo que acontecia de ruim era culpa do Denis. Se alguém fizesse algo errado e meus pais não conseguissem descobrir quem foi, pairava no ar aquele clima de acusação sobre mim. Havia muita implicância e nós, os filhos dessa família nos defendíamos uns dos outros como podíamos. Vivíamos um verdadeiro Big Brother da vida real. Muitas vezes, os outros três irmãos faziam aquela panela... Certa vez meu padrasto ordenou que ninguém falasse comigo... Minha mãe fazia vista grossa para as injustiças que eu sofria. “Tenha paciência” dizia ela... Faltou diálogo, faltou didática, faltou compreensão... Muitas vezes me revoltei porque tudo e todos eram contra mim... Então, quando me enfurecia, era taxado de ignorante. Não tinha chance de expor meus motivos e, em muitas vezes, mesmo tendo razão eles conseguiam reverter a situação e me reduzir a pó... Não foram poucas a vezes em que me senti um lixo humano. Na minha adolescência por várias vezes, tive vontade de por fim a minha vida. Fui educado num lar espírita, o que acho uma contradição a lei do Karma... Por vezes cheguei a pensar que ir para o inferno sem salvação era melhor do que viver mergulhado naquela poça de picuinhas. Hoje não culpo minha mãe pelas coisas que aconteceram, mas as sequelas psicológicas ainda não cicatrizaram. As vezes tenho pesadelos daquele tempo onde aquele menino era massacrado, humilhado, caluniado... Eu não tinha nem sequer o direito de me defender... Lembro-me que na adolescência senti uma tristeza profunda e incontrolável... Enfurnava-me em algum lugar escondido para chorar, pois não queria que meus “inimigos” tivessem o prazer de me ver chorando. Eu não sabia o que era depressão. Para a minha família ignorante depressão era coisa de gente fresca.
Dia desses, li um trecho de um livro singelo chamado Minutos de Sabedoria. “...Deus envia os homens para ajudar os próprios homens...” dizia o capítulo que eu lera. Muita gente usa esse livrinho como uma espécie de oráculo. Esse trecho me fez lembrar de um anjo que Deus enviou para me guiar pelos caminhos tortuosos da vida que passei na juventude. 
Até hoje ainda me lembro de quando o conheci. Eu estava na quinta série do ginásio e aquele homem magro  de estatura mediana e de voz suave adentrou a sala. Seu nome eu nunca mais esqueceria: Luis Antonio Coracini. Tinha um sotaque do interior paulista e uma simplicidade que lhe eram peculiares. Estava sempre de calça e camisa social numa atitude de seriedade com a função que exercia. Dali até a oitava série ele foi nosso professor de Português e Inglês. Nos horários de intervalo, quando ele não estava ocupado, gastava seu tempo conversando conosco, os meros alunos... Em toda a sua simplicidade, ele discorria sobre os mais variados assuntos revelando-se uma pessoa extremamente culta. Falava com a gente sobre cultura, esportes, música, religião e um monte de coisas interessantes. Passei então a cultivar esse hábito de conversar com ele. Ele sempre tinha coisas bacanas para falar. Tornou-se o amigão da turma. Jogava bola com a gente. Trazia informações sobre cursos e palestras. Certa vez, ele veio com o carro abarrotado de livros e distribuiu para a escola toda num gesto de carinho e como um incentivo a leitura. Nunca ouvi uma palavra ofensiva saindo daquela boca. Nunca ouvi ele proferir um palavrão sequer... Sempre soube controlar o ímpeto da turma chamando nossa atenção, quando necessário.... Nós o respeitávamos, pois ele tinha algo que muita gente não consegue conquistar: Respeito.
Ele sempre se mostrou uma pessoa equilibrada, mesmo nos momentos mais críticos. Sua conduta sempre foi impecável. Como qualquer pessoa, ele não conseguiu agradar todo mundo, mas ele até hoje mora em nossas mentes. O professor Luis sempre vai ser o mais lembrado, o mais venerado...
Esse Anjo que Deus colocou na minha vida lá no começo nem imagina o quanto suas palavras amigas e seus bons conselhos me ajudaram a suportar a barra que foi a minha fase de adolescente. Ele representa para mim uma referência, um ícone, um exemplo... Se não fosse ele, talvez eu nem estivesse mais aqui hoje.
Agradeço a Deus sempre por ter enviado esse homem iluminado para me guiar. Professor Luis, que Deus o ilumine sempre, meu Amigo de Fé e irmão de espírito!!!  



sexta-feira, 4 de maio de 2012

Pequenos “luxos”

Foto: Arquivo pessoal (STK)

Primeiro gostaria de me desculpar por não ter postado no mês de Abril. Putz... Sabe como é... Mudança, bagunça para arrumar, trabalho, estudo e muitas outras coisas mais que são de minha responsabilidade resolver. Tem horas que tudo que eu desejo é um pouco de Paz.
Tem alguns momentos da vida em que começamos a nos questionar o verdadeiro sentido de estarmos sobre a face da Terra. Para alguns, essa questão torna-se a pergunta que não quer calar... Já passei por vários desses momentos de reflexão e ainda não tenho uma resposta que eu julgue convincente. Por mais que as coisas na minha vida tenham andado para frente, mesmo que de maneira árdua e gradativa, mesmo sentindo-me de certa forma confortável, sinto como se o meu tempo estivesse em contagem regressiva. Será que não está? Muitas vezes, pergunto-me se vale a pena gastar a vida fazendo sacrifícios, sendo que o melhor da vida é viver e esse ato de viver vai sendo deixado de lado ano após ano... E quando acordamos e enfim podemos nos dar ao luxo de viver, percebemos que não poderemos desfrutá-la com toda plenitude, já que a velhice nos impõe severas restrições que vão se agravando ainda mais com o passar do tempo.
Nesses últimos anos, estive tão preocupado em trabalhar, que esqueci de viver... Tirando o ano de 2010 que passei no Brasil, já faz um tempo em que ando mergulhado em trabalho. Em prol de conquistar uma vida melhor, privei-me de muitas coisas e vivi provisoriamente nos dois países. Quando estava no Brasil, não comprei móveis e nem fiz muita questão de estruturar minha vida doméstica, afinal tinha que me centrar na vida que eu levava no Japão. No Japão não comprei móveis e nem me dei ao luxo de alguns confortos básicos porque tinha planos de voltar ao Brasil. São duas décadas vivendo provisoriamente e desconfortavelmente. 
Hoje sinto que penei por uma boa causa, mas sei que se tivesse me programado melhor, teria trilhado esse caminho de maneira menos sofrida.
Hoje muitos dos meus amigos da época do colégio estão formados e com suas respectivas carreiras. Trilhei caminhos diferentes, mas estou relativamente feliz com o desenrolar das coisas... Sei que esse grau de Felicidade ainda é ínfimo perto do que realmente desejo, mas o que eu quero não é muito... O que aspiro é um lugar para morar onde eu possa tocar nas árvores e ouvir o canto dos pássaros... Respirar o ar puro das manhãs e olhar o nascer do sol e seu crepúsculo... Ter muito espaço para receber os parentes e amigos para um churrasco e poder desfrutar da companhia deles sem medo do barulho incomodar a vizinhança... Ter um lugar onde meus amigos estacionem o carro sem a neura de pensar se os bandidos estão roubando, ou se a polícia está multando... Poder reunir as pessoas que amo em alegres reuniões familiares e desfrutar de boa comida, boa conversa e boas lembranças... Meu Deus... Meu pedido parece tão simples, mas no momento parece tão distante...
Tem dias em que tento desacelerar... Largo tudo e vou tomar café, conversar com pessoas interessantes (STK), vou nas livrarias, nos parques... A simplicidade de momentos de contemplação da natureza me acalma e me faz perceber que a vida é bela... Nós é que a tornamos complicada... A Primavera estava muito bonita neste ano. Especialmente para mim que estou redescobrindo a Alegria adormecida dentro da minha alma. Quando estamos neste estado “nirvânico”, mesmo os dias chuvosos e nublados tem um sabor e uma poesia diferente. as vezes é preciso que alguém nos acorde para esses pequenos detalhes que criam melhorias gigantescas em nossas vidas! 
Obrigado meu Deus por todas as coisas boas que eu enxergava e por todas as coisas boas que passei a enxergar!!! Acho que o excesso de trabalho deturpou os meus sentidos, mas o lado bom de tudo isso é que sinto que ainda há tempo de correr atrás e recuperar muita coisa do que foi perdido. Como disse um sábio: “Uma grande jornada começa pelo primeiro passo...”

terça-feira, 20 de março de 2012

Primavera no Japão

Foto: Banco de imagens do Google.
Ontem foi o feriado da entrada da Primavera (Shunbun). A Primavera traz consigo a perspectiva de que o frio está indo embora. Logo vem o colorido das flores, a beleza do desabrochar das cerejeiras, hanami, churrasco no parque e passeios aos rios e praias. “Nossa, ainda bem que acabou o frio” dizem alguns incautos. Ledo engano. Todos os anos é a mesma coisa. O tempo dá uma amenizada, as pessoas pensam que o frio foi embora, mas esquecem que o restinho do frio, a rapinha do inverno ainda está por vir. Apesar de entrarmos oficialmente na Primavera agora, o frio vai perdurar por mais algum tempo, assim é aconselhável que você tenha sempre uma blusa a tira-colo. Vai dar um chuviscada, o frio e os ventos vão dar uma última judiada na gente e depois de tudo, aí então o tempo começará a esquentar. 
Na Primavera a natureza renasce e renova as nossas esperanças. Já vai fazer um ano que o terremoto seguido de Tsunami fez um grande estrago no nordeste do Japão. Ainda me lembro da histeria de muitos dos meus compatriotas. Muita gente se precipitou e foi embora. Como era de se esperar, o povo desta nação se uniu e se organizou para num primeiro momento, amenizar os efeitos da tragédia. Posteriormente a nação se mobilizou para arrumar a casa. Campanhas de economia de energia elétrica mobilizaram a população e as empresas. Ainda há muito o que arrumar, mas o Japão mostrou ao mundo novamente que é capaz de se levantar e voltar á luta. Isso se deve não só ao sistema organizado, mas também á força do seu povo. Tenho certeza de que muitos de nós, brasileiros e outros estrangeiros que moram aqui também vestiram a camisa e dentro de seu alcance fazem o que podem para ajudar o país.
O tempo voa!!! Mal virou o ano de 2011 para 2012 e já estamos no final de Março... Começa tudo de novo... Alergia ao pólem da Primavera (kafunshou), Irritação, espirros, coriza e ardência nos olhos... Para quem pega remédio com o clínico geral, sugiro que consulte um otorrinolaringologista. na verdade o otorrino é um médico especializado na parte afetada pelo Kafunshou, assim ele poderá indicar o remédio mais adequado ao problema. Todos os anos eu passo maus bocados na Primavera por causa da dita alergia. Ia no clínico geral e recebia remédio para alergia. Ainda assim, sofria bastante... Neste ano, um amigo “japa” me aconselhou procurar uma clínica de otorrinolaringologia (Jibi-inkouka, ou simplesmente JIBIKA). Realmente, os resultados do tratamento estão sendo bem mais satisfatórios.
Na verdade, eu gostaria de dispor de dinheiro para poder passar esses meses de Março, Abril e Maio lá no Brasil... Assim não precisaria tomar remédio e também não seria afetado pela alergia. Quem sabe um dia, rsrsrs... Maio também é o mês de aniversário da minha filha, e nessa época é meio difícil para mim estar longe dela. Aliás, conheço muita gente por aqui que por algum motivo vive longe dos amados rebentos. Não é fácil passar Natal, Ano Novo, dia dos pais, dia das mães e aniversários longe das pessoas que amamos, mas poesia a parte, dinheiro é a alavanca que move esse mundo e sem ele não poderemos proporcionar um futuro digno para eles. É muito fácil dizer que tem que dar Amor, mas na hora que as contas apertam, a poesia fica de lado e temos que encarar a dura realidade. Uma grande prova de Amor já é por si só o fato de sacrificarmos os preciosos momentos que podemos estar ao lado deles em prol proporcionar-lhes bem-estar. 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Lembrando a morte e celebrando a vida

Foto: Banco de imagens do Google

Dia 14 de Fevereiro... Valentine´s Day... O dia em que as meninas presenteiam os meninos com chocolate. Algo parecido com o 12 de Junho, dia dos namorados do Brasil. Esse ano, como sempre, ganhei algumas caixas de chocolate. É  sempre muito bom ser lembrado. Para mim, o mais importante nem é o chocolate em si, mas sim a manifestação de carinho do gesto.
Para mim, o dia 14 de Fevereiro é um dia triste... 
Na manhã de 14 de Fevereiro, por volta das 11 horas eu estava trabalhando no atelier que mantinha em Guarulhos. O telefone toca e eu atendo. Era meu padrasto em uma ligação a cobrar do Rio Grande do Sul:
-“Alô, Denis?”
-Oi pai, tudo bem?
-“Eu tenho uma notícia triste para te dar...”
-O que aconteceu???
-“Sua mãe teve outro derrame essa noite e faleceu...”
Apesar de saber que a saúde dela era frágil... Apesar de no íntimo eu saber que isso era uma coisa que poderia acontecer a qualquer hora... Naquele instante o chão faltou sob os meus pés... Senti uma espécie de tontura e parecia que a casa havia desabado sobre a minha cabeça...Chorei descontroladamente e demorei alguns minutos para me recompor... Depois retomei a conversa e fui correndo fazer os preparativos para viajar ao sul do país e comparecer ao velório. Iniciava-se ali o dia mais triste da minha vida.
O tempo ameniza a dor mas não cicatriza totalmente esse tipo de ferida. Passei vários anos com a sensação de que ela estava me esperando para o Natal e Ano Novo...
As vezes eu preferia não lembrar desse dia, mas o Valentine´s Day é uma data bem marcada no calendário aqui do Japão. A mídia fala maciçamente sobre essa data para ajudar o comércio a vender presentes, principalmente chocolate. Agradeço muito a Deus o fato de estar no Brasil na época do passamento de minha mãe, mas penso com tristeza quantos nikkeis e dekasegis que vivem no Japão e passam pelo drama de perder seus entes mais queridos sem ao menos ter a chance de comparecer na derradeira cerimônia de despedida. Distância, tempo e dinheiro tornam-se grandes obstáculos nessas horas.
Quando a gente fica adulto e as responsabilidades pesam de uma vez sobre nossos ombros e as decepções  começam a acontecer com uma frequência inesperada, a gente começa a achar que a vida vai se tornando sem-graça. Jogamos fora muitos de nossos sonhos e ilusões e a dura realidade da vida vai aos poucos frustrando a nossa esperança de alcançar a Felicidade. Parece que vamos ficando cada vez mais amortecidos para a beleza das coisas e acabamos por esquecer que a vida só faz sentido se transformarmos cada momento da nossa existência passageira em pequenos e alegres eventos. A Felicidade para a maioria de nós parece algo que estamos sempre correndo atrás, mas que, à medida que corremos, ela foge na mesma velocidade gerando um processo contínuo de busca e frustração.
Hoje, Felicidade para mim seria poder ver minha filha sempre, poder sentar numa varanda e ver o pôr do sol em seus mais variados tons de vermelho, amarelo e laranja... Poder ter tempo para sentar numa cadeira confortável e tomar uma boa xícara de chá, ou café sem me preocupar com o tempo... Poder deitar numa espreguiçadeira e devorar bons livros... Poder fazer churrasco em casa com os parentes e amigos... Caminhar pelo mato e ouvir o barulho da água dos riachos e o som dos sapos e grilos...
Enfim, deixar essa vida de trabalho e sacrifício para trás e trilhar caminhos diferentes daqueles que minha mãe trilhara outrora...
Dia desses tive o prazer de assistir O fabuloso destino de Amelie Poulan. Achei linda a mensagem e a personagem. Amelie com sua carinha meiga, mas ao mesmo tempo sapeca nos traz belas lições de vida. Assistindo ao filme lembrei que a Felicidade é um estado mental e que o prazer e a beleza da vida residem nas coisas mais simples à nossa volta.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ano: Acaba um e começa outro...

Foto: Banco de imagens do Google

Bem... O mês de Janeiro já está no último dia e se seu bobeasse mais um pouco, não iria conseguir postar nada. Em primeiro lugar, Feliz 2012 para todos e que esse seja um ano repleto de boas realizações para todos, mas acima de tudo, que seja um ano de muita compreensão entre as pessoas, pois o que está faltando nesse mundo é a gente se por no lugar do outro e tentar sentir as limitações do outro e compreendê-lo.
Janeiro no Brasil é um mês difícil pois vem tanta conta para pagar que chega a dar uma certa sensação de desânimo... Mesmo morando no Japão, as minhas contas do Brasil vem todos os anos. O IPTU da minha casa, as despesas extras com material escolar, o IPVA do meu carro que está atrasado até eu voltar para o Brasil e colocar em dia... Depois ainda vem os boletos da prefeitura daqui de onde moro no Japão. Mais uma via crucis para pagar em tantas parcelas...
Contabilizando as perdas e lucros que tive nesse ano que se passou, acho que ainda estou no azul... Gastou-se uma grana com despesas da minha sobrinha (que graças a Deus foi embora). Eu estaria bem feliz se ela tivesse aproveitado a chance de estudar e ao menos tentar ser alguém melhor, mas não tolero malcriação e desrespeito, então já que, ou a gente deixava ela ir embora, ou ela fazia um inferno, simplesmente deixei-a ir embora... 
Gastou-se uma grana com impostos dos mais variados tipos... Terei que estudar uma maneira de contornar isso. 
Bem... O ano passado também me trouxe gratas surpresas...  Consegui um emprego numa das melhores e mais bem conceituadas empreiteiras da minha província. Ganhei novos amigos, estou retomando meus estudos na Unip. Estudei alguns meses no Kumon. Li dois livros em japonês o que me trouxe uma alegria muito grande.  
Apesar de trabalhar em dois empregos, a vida por aqui parece que me proporcionar tempo para fazer várias tarefas ao mesmo tempo.Do fundo do meu coração, desejo que este ano seja um ano de boas realizações para mim e para todos, mas quero também me centrar um pouco na questão de guardar dinheiro para realizar alguma coisa boa para mim lá na frente. As vezes me sinto como se estivesse num barco remando, remando sem sair do lugar... Ganhar dinheiro está difícil, mas guardar dinheiro está bem mais!!!
Aos amigos que estão sempre comigo, obrigado por estarem sempre por perto. Aos amigos que já não querem ser mais meus amigos, sem ressentimento... Meu coração estará sempre aqui esperando por vocês, mesmo que não voltem... O mais importante é que por algum momento interagimos e aprendemos um com o outro e assim a vida continua!!!