terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Lembrando a morte e celebrando a vida

Foto: Banco de imagens do Google

Dia 14 de Fevereiro... Valentine´s Day... O dia em que as meninas presenteiam os meninos com chocolate. Algo parecido com o 12 de Junho, dia dos namorados do Brasil. Esse ano, como sempre, ganhei algumas caixas de chocolate. É  sempre muito bom ser lembrado. Para mim, o mais importante nem é o chocolate em si, mas sim a manifestação de carinho do gesto.
Para mim, o dia 14 de Fevereiro é um dia triste... 
Na manhã de 14 de Fevereiro, por volta das 11 horas eu estava trabalhando no atelier que mantinha em Guarulhos. O telefone toca e eu atendo. Era meu padrasto em uma ligação a cobrar do Rio Grande do Sul:
-“Alô, Denis?”
-Oi pai, tudo bem?
-“Eu tenho uma notícia triste para te dar...”
-O que aconteceu???
-“Sua mãe teve outro derrame essa noite e faleceu...”
Apesar de saber que a saúde dela era frágil... Apesar de no íntimo eu saber que isso era uma coisa que poderia acontecer a qualquer hora... Naquele instante o chão faltou sob os meus pés... Senti uma espécie de tontura e parecia que a casa havia desabado sobre a minha cabeça...Chorei descontroladamente e demorei alguns minutos para me recompor... Depois retomei a conversa e fui correndo fazer os preparativos para viajar ao sul do país e comparecer ao velório. Iniciava-se ali o dia mais triste da minha vida.
O tempo ameniza a dor mas não cicatriza totalmente esse tipo de ferida. Passei vários anos com a sensação de que ela estava me esperando para o Natal e Ano Novo...
As vezes eu preferia não lembrar desse dia, mas o Valentine´s Day é uma data bem marcada no calendário aqui do Japão. A mídia fala maciçamente sobre essa data para ajudar o comércio a vender presentes, principalmente chocolate. Agradeço muito a Deus o fato de estar no Brasil na época do passamento de minha mãe, mas penso com tristeza quantos nikkeis e dekasegis que vivem no Japão e passam pelo drama de perder seus entes mais queridos sem ao menos ter a chance de comparecer na derradeira cerimônia de despedida. Distância, tempo e dinheiro tornam-se grandes obstáculos nessas horas.
Quando a gente fica adulto e as responsabilidades pesam de uma vez sobre nossos ombros e as decepções  começam a acontecer com uma frequência inesperada, a gente começa a achar que a vida vai se tornando sem-graça. Jogamos fora muitos de nossos sonhos e ilusões e a dura realidade da vida vai aos poucos frustrando a nossa esperança de alcançar a Felicidade. Parece que vamos ficando cada vez mais amortecidos para a beleza das coisas e acabamos por esquecer que a vida só faz sentido se transformarmos cada momento da nossa existência passageira em pequenos e alegres eventos. A Felicidade para a maioria de nós parece algo que estamos sempre correndo atrás, mas que, à medida que corremos, ela foge na mesma velocidade gerando um processo contínuo de busca e frustração.
Hoje, Felicidade para mim seria poder ver minha filha sempre, poder sentar numa varanda e ver o pôr do sol em seus mais variados tons de vermelho, amarelo e laranja... Poder ter tempo para sentar numa cadeira confortável e tomar uma boa xícara de chá, ou café sem me preocupar com o tempo... Poder deitar numa espreguiçadeira e devorar bons livros... Poder fazer churrasco em casa com os parentes e amigos... Caminhar pelo mato e ouvir o barulho da água dos riachos e o som dos sapos e grilos...
Enfim, deixar essa vida de trabalho e sacrifício para trás e trilhar caminhos diferentes daqueles que minha mãe trilhara outrora...
Dia desses tive o prazer de assistir O fabuloso destino de Amelie Poulan. Achei linda a mensagem e a personagem. Amelie com sua carinha meiga, mas ao mesmo tempo sapeca nos traz belas lições de vida. Assistindo ao filme lembrei que a Felicidade é um estado mental e que o prazer e a beleza da vida residem nas coisas mais simples à nossa volta.