Tenho muitos conhecidos, muitos parentes, alguns colegas e uns poucos Amigos. Dentre todas essas pessoas, no entanto, talvez apenas umas duas ou três me conheçam de verdade. Para algumas, eu sou aquele cara que está sempre de bem com a vida, alegre, otimista e trabalhador. Meus parentes e conhecidos dizem que sou um cara batalhador, incansável, corajoso... Uma fortaleza... Confesso que fico envaidecido com esse tipo de comentário. Trabalhei duro a vida inteira e chega um momento que a gente quer algum reconhecimento. Durante essa minha vida aprendi a levar pancada e a superar... Aprendi a cair e levantar... Tornei-me forte até certo ponto, mas tenho que ser sincero...As vezes eu fraquejo.
Já estive inserido nos mais diversos ambientes de trabalho: Trabalhei na roça, quando garoto, trabalhei fazendo terraplanagem na base do carrinho de mão, da pá e da enxada... Cuidava de criação na chácara dos meus pais, onde cresci. Cuidava das hortas... Fui ajudante de jardineiro, lenhador, servente de pedreiro, pintor, ajudante de eletricista, ajudante de carpinteiro de obras, pintor e montador de placas publicitárias, letrista, funcionário público, funcionário de escritório, faxineiro, vendedor, segurança, professor de Karatê...
No Japão fui operário de linhas de montagem, kensa, torno, pintura, baritori, produção e inspeção de peças para a Toyota (Denso, Asahi Garasu), fui garçon de churrascaria, fui eletricista de caixas de distribuição de força, fui intérprete e tantousha, fui motorista, fui lojista...
Bem... Isso dá uma idéia de como tive contato com os mais variados tipos de pessoas... Com essas pessoas aprendi muito. Também me machuquei bastante. No final das contas, muitas vieram para acrescentar algo na minha vida. Com o tempo aprendi que as pessoas que não tem nada a ver com a gente não podem nos magoar. Um comentário maldoso, uma mentira que digam a meu respeito, ou uma calúnia só me desestabilizam momentaneamente. Para superar esse tipo de percalço eu estou preparado. As únicas pessoas que realmente conseguem me magoar são aquelas que lhes tenho em alto patamar de consideração... Para elas, o meu coração está aberto e vulnerável...
Minha filha está em plena adolescência. Ela nem imagina o Amor que sinto e lhe dedico. As vezes ela me trata de maneira fria, indiferente. Tenho que admitir que nessas horas eu me sinto fraco...
Quando temos algum desentendimento com quem amamos, parece que o mundo desaba sobre nossas cabeças e se essa bruma não se desfizer plenamente, sentimos como se tivéssemos sido atingidos por uma granada. Mesmo que um médico nos opere, temos a sensação de que ficaram alguns estilhaços...
O Amor é uma faca de dois gumes: Ele nos levanta e nos ajuda a viver de maneira mais intensa, mas esse sentimento também tem o poder de nos derrubar e converter o dia mais ensolarado na noite mais sombria de todas. Não é a toa que muita gente depois de uma desilusão amorosa entra em processo de depressão profunda.
Para muita gente, viver no Japão é mais complicado, pois muitos tem dificuldade de se relacionar com outras pessoas. Não há o apoio dos poucos amigos que tinham no Brasil... Não há o apoio dos parentes... Muitos vivem sozinhos no meio da multidão. Não tarda a melancolia, a amargura e a manifestação se sintomas de esquizofrenia... As vezes sinto que estou muito perto de ficar assim... As vezes acho a linha da razão e da irracionalidade muito tênue... Talvez seja a fase que estou passando agora...
Continuarei tentado ser uma pessoa melhor a cada dia... Tentando ser bom para o meu próximo... Disso tenho plena certeza. Continuarei ignorando a maldade alheia... Posso no máximo ficar indignado.
A única coisa da qual ainda não consigo ter controle é esse sentimento de impotência quando me desentendo com as pessoas que amo...