Pessoal, espero que me perdoem por sair um pouco de assuntos pertinentes ao Japão. Estou aproveitando para ler bastante e postar minhas impressões e os respectivos resumos críticos das obras para a faculdade. Assim, vou postar no blog também para compartilhar as minhas impressões com vocês. Aproveito para sugerir também, que conheçam o trabalho da escritora Patrícia Melo. Uma autora jovem, inteligente e com um estilo inovador.
Atividade:
Leitura
Livro:
Valsa Negra, 2003 – Companhia das letras
Autora:
Patrícia Melo
Valsa
Negra conta a estória de um bem sucedido maestro e seu ciúme
obsessivo pela esposa.
No
romance, a autora não cita seu nome em momento algum, portanto,
vamos chamá-lo simplesmente de maestro. Narrado em primeira pessoa,
a trama gira em torno do maestro e sua relação conturbada com as
pessoas que o cercam. Ambientada nos palcos e bastidores de grandes
orquestras, a estória mostra todos os sentimentos mais humanos e
cruéis que uma pessoa atormentada pode gerar. Casado com Marie, uma
mulher linda, trinta anos mais jovem e de família rica, o maestro
sente-se deslocado da família da esposa pelo fato de não ser judeu.
A comunidade judaica mantém suas tradições como o idioma e
costumes, além de se manter informada sobre o dia a dia em Israel.
Esse nacionalismo protuberante somado às manifestações
avassaladoras de ciúmes do maestro acabam por agravar a situação
entre ele e a família da esposa.
Egocêntrico,
perfeccionista e intolerante, o maestro muitas vezes se excede ao
chamar a atenção de seus músicos (Marie entre eles). No decorrer
dos acontecimentos, a personagem central passa da desconfiança para
a paranoia e dali para a obsessão. Seu estado mental e sua
agressividade pioram exponencialmente. Tudo acontece num ritmo
frenético onde o maestro passa a perder a Paz e busca de todas as
maneiras monitorar os passos da esposa. Seu trabalho passa a ser
prejudicado, seu prestígio cai, as pessoas à sua volta se afastam e
finalmente Marie se separa. Mergulhado nessa vida infernal, ele acaba
por se suicidar.
Quando
conheci o trabalho de Patrícia Melo através da obra “O matador”,
fiquei surpreso com seu estilo inovador e seu ritmo imposto pela
pontuação, o que resulta numa leitura dinâmica e prazerosa. Em
Valsa Negra, Patrícia nos presenteia com o mesmo estilo e o mesmo
ritmo alucinante, com a diferença que a obra em questão foi muito
mais bem elaborada. Ela nos desvenda o sofisticado mundo das
orquestras, da comunidade judaica, do conflito no Oriente Médio e
nos fala principalmente de temas muito humanos como o sentimento de
ciúmes, posse, desejo, ódio e frustração. São temas muito atuais
e o cenário foi muito bem estruturado, onde Patrícia Melo desenrola
habilmente sua trama, fazendo-nos olhar para a vida e para as pessoas
através de uma ótica mais crítica. Uma das características da
autora que marca a obra é a versatilidade no uso do tipo de
linguagem, onde ela penetra no íntimo de suas personagens e,
conforme a situação insere palavras consideradas chulas. Em outras
vezes, ela nos brinda com belas expressões. Essa liberdade em compor
pensamentos e diálogos nos dá a impressão muitas vezes clara de
que, apesar das palavras usadas não serem bem aceitas por muitos
críticos, linguisticamente me soa como as mais adequadas para as
situações mostradas, visto que Patrícia consegue nos introduzir na
estória e nos fazer perceber toda a cinestesia presente em suas
palavras.
A
obra analisada talvez não agrade aos mais pudicos, pois para
apreciá-la devemos lê-la com a mente aberta, aceitando o estilo da
autora e toda a sua liberdade de expressão. Todo o rico conteúdo da
trama revela uma forte pesquisa que nos remete a uma grande sensação
de veracidade. Ao ler o livro temos a nítida sensação de que,
apesar de ser uma obra ficcional, Valsa Negra derrama sobre nós uma
enxurrada de sensações verdadeiras. A obra concebida é
incrivelmente próxima à realidade.
Tive
o prazer de ler, gostei e recomendo.