Gente, já faz tempo que não me animo a postar alguma coisa por aqui. Gosto muito de compartilhar as experiências que adquiro no eixo Brasil-Japão. Gosto de falar sobre as impressões que tenho dessas experiências, mas estive passando por um momento difícil emocionalmente e psicologicamente falando. Depois de 20 anos vivendo no Japão, tentar me situar no Brasil é uma tarefa um pouco complicada, ao menos para aqueles que estão realmente preocupados em crescer intelectualmente e profissionalmente. O Brasil mudou bastante em termos de tecnologia e infra-estrutura, mas no quesito organização, ainda deixa um pouco a desejar. Sei que isso é uma questão de tempo, mas a corrupção é um dos maiores empecilhos diante de uma nação que clama por melhores condições na saúde, na segurança, na educação e em tantos outros campos carentes da verba roubada pelas mãos inescrupulosas de muitos dos nossos políticos.
Ultimamente, tenho andado muito de Metrô em São Paulo. A nossa malha ferroviária ainda é modesta diante das linhas europeias, ou mesmo se compararmos com as ferrovias do Japão, mas o Metrô de São Paulo é um meio de transporte digno de primeiro mundo. Tudo limpo, organizado e com muitos trens transportando passageiros para as principais localidades da região metropolitana. O Metrô é um meio de transporte sofisticado, mas que é usado por muita gente mal educada. Vejo algumas pessoas sentadas em assentos preferenciais sem arredar a bunda para dar lugar aos idosos... Pessoas paradas no lado esquerdo da escada rolante, atravancando a passagem de quem está com pressa... Pessoas jogando lixo no chão, apesar das lixeiras disponíveis nas estações... Pessoas apoiando os pés em cima de assentos vazios, infectando com sujeira os assentos onde outras pessoas vão se sentar... Acho que enquanto o nosso coração e a nossa educação não forem grandiosos, dificilmente seremos uma grande Nação.
Existem coisas que devem ser ditas, ou escritas, com a cabeça fria, afinal, a tristeza, a ira e tantos outros sentimentos nocivos afetam o nosso discernimento. Hoje, 14 dias depois do falecimento do seu Fábio, o homem que passei a vida inteira chamando carinhosamente de Pai, eu posso falar um pouco sobre a sua vida e sobre a sua inesperada passagem. Desde pequeno, eu me lembro daquele homem alegre, saudável (não bebia e nem fumava) e forte. Ele era sedentário, mas fazia muitos serviços no sítio e posteriormente na casa onde morou nos seus últimos anos de vida. Tudo para ele era motivo de piada e passou a vida gargalhando gostosamente. Toda vez que voltava ao Brasil, sempre fazia-lhe uma visita e ficávamos juntos por pelo menos uns dez dias. Eram dias alegres, com aquelas piadas e pegadinhas que ele vinha repetindo à décadas. Por incrível que pareça, apesar dos 84 anos, ele não tinha nenhuma doença e nunca precisou fazer tratamento de nenhuma espécie. Em Julho deste ano, dei o meu último abraço e lhe prometi que voltaria em Setembro para comemorar o seu aniversário. Ele estava lúcido e saudável. Em Agosto recebi a notícia de que ele teve uma hemorragia no intestino e posteriormente um AVC. Ele passou um tempo internado, em coma na UTI. Sofreu uma cirurgia radical e os médicos tiveram que tirar o intestino grosso. Sobreviveu e passou mais um tempo em observação na UTI. "Alguém lá em cima gosta dele" disse o médico. Posteriormente, ele acordou do coma e voltou para casa. Eu sempre tive medo dessas melhoras... Pacientes em estado grave que melhoram, na maioria dos casos só recebem essa graça para poderem morrer em casa e se despedirem de seus familiares. A minha razão dizia isso, mas eu não perdia as Esperanças. Na madrugada do dia 15 de Setembro, 10 dias antes de meu pai completar 85 anos, recebi uma ligação do meu Tio João. "Denis tenho uma notícia não muito boa para te dar..." Eu já sabia o que tinha acontecido. Liguei para a Rita e combinamos todos de irmos juntos para o Rio Grande do Sul.
Eu não entraria no mesmo ambiente que o cafajeste do Toninho, o caçula, mas engoli o meu orgulho e fui sepultar o meu pai. Para mim, era mais do que uma obrigação, era o meu último gesto de Amor e carinho. Velório e enterro não são lugares para baixaria. O Toninho, quando soube que eu iria, voltou do meio do caminho (covarde). Disse que se ele fosse, que "a coisa iria ficar feia para o meu lado..." (coitado).
Só quero deixar umas coisas bem claras:
Agradeço muito a Deus por ter me deixado estar no Brasil quando minha mãe e meu pai foram sepultados. Poder me despedir deles me deixou com a consciência tranquila e cumpri o meu dever e o meu luto.
Se o Toninho não foi sepultar o pai dele, assim como não foi sepultar a mãe, que não coloque a culpa em mim... Das duas uma: Ou ele foi muito COVARDE para não olhar nos meus olhos depois de toda a sujeirada que ele e a imbecil que ele chama de esposa fizeram debaixo do meu teto, ou ele foi muito mesquinho para não comprar uma passagem e ir lá no sul cumprir com o seu dever. Aliás, fugir dos deveres é a especialidade dele, é só olhar como a Flávia e o Henrique foram criados.
Segurei a alça da cabeceira do caixão, eu e o Fabinho, com muita honra e conduzimos o corpo até o destino final. A minha parte está feita! Ir ver o pai somente nos momentos bons é fácil...
Assim como ele tentou colocar a culpa da morte da minha mãe em mim, ele tentou fazer de novo com a morte do pai. Toninho... Faça um favor para você e para mim: MANTENHA A SUA BOCA FECHADA!!!
Viver tantos anos no Japão e voltar no momento em que meus pais morreram, para mim não é coincidência. É Deus trabalhando para que eu possa ter uma separação menos traumática. Essa Paz na consciência não tem preço.
Aniversário de 76 anos. Meu Tio João colocou o Fabinho no canto direito para que todos os filhos estivessem nessa foto.