sexta-feira, 15 de maio de 2015

A tempestade

Foto: Arquivo pessoal

     Certa vez, quando ainda era adolescente, um dos meus mentores me disse algo que se encaixa perfeitamente na situação pela qual passei esses tempos atrás: "Quando vier a tempestade, busque um lugar para se abrigar e não a enfrente de peito aberto tentado vencer..." É uma grande verdade e essa analogia serve para qualquer situação crítica em nossas vidas. Lá no início dos anos 1990, eu já ouvia histórias sobre nikkeis que voltaram do Japão com problemas emocionais, síndromes psicóticas e esquizofrenia, mas nunca achei que eu mesmo passaria por tantas coisas que fossem roubar o meu equilíbrio. Nos meus mais de vinte anos no eixo Brasil-Japão eu conheci pessoas que sofriam de algum tipo de desequilíbrio emocional. Em geral, eram pessoas solitárias, vivendo longe dos familiares, ou fugindo de algum problema que haviam deixado no Brasil... 
     Eu sempre soube que a maldade existia, mas achei que tentando ser uma pessoa boa e praticando o bem de maneira efetiva, eu estaria imune a toda ação mal-intencionada. Ledo engano... Acordei para uma dura realidade: Pessoas más não possuem ética, são mal agradecidas e não exitam em puxar o tapete até mesmo daqueles que lhes estenderam a mão em momentos de dificuldades. Fazer o que? O mundo e a vida são uma escola e as vezes, algumas lições saem muito caras e nos deixam com sequelas emocionais e psicológicas muito profundas.
     Eu, assim como muitas pessoas que passaram por problemas, deixei a situação chegar a um ponto tão crítico que senti que estava no meu limite. Caí em depressão e relutei em buscar ajuda. Estive à beira do suicídio algumas vezes e hoje, reconheço que eu deveria ter buscado ajuda médica, recursos e a companhia de pessoas boas. Felizes daqueles que tem o seu porto seguro na existência de uma família unida, forte e amorosa. Eu tenho muitos parentes, muitos atarefados com suas próprias vidas e cuidando de seus próprios problemas. São pessoas maravilhosas, mas nem sempre posso correr para lá para pedir um abraço e um ombro para chorar. 
     Muitas vezes, as soluções vêm de onde a gente menos espera e eu encontrei o meu abrigo para a tempestade junto à pessoas que nem possuem vínculo sanguíneo comigo. Fui até onde meu filho se encontra hoje e passei uns dias com ele. Ele precisa da minha companhia, mas na verdade, eu preciso ainda mais da companhia dele. Aliás, eu não vivo sem os meus dois filhos, que foram presentes que Deus me enviou e que a distância, às vezes, me priva da companhia deles. Enfim, fui para a distante cidade de Montalvânia, encravada ao noroeste de Minas na divisa com a Bahia. Lá, além de desfrutar da companhia do meu filho, fiz uma higiene mental, me desintoxiquei dos anos de energias negativas com as quais fui bombardeado diariamente, fiquei cercado de pessoas do Bem e de gente simples da roça que me dedicaram um dedinho de prosa prazerosa e compartilharam comigo a magia de estar vivo e respirando aquele ar puro, pisando na terra e comendo aquela comida saborosa temperada com açafrão e cominho. Eles se sentiram honrados em me receber em suas humildes casas de chão batido, mas não tinham ideia de que eu me senti mais lisonjeado de ser convidado a entrar em seus palacetes de simplicidade e me sentar à mesa para sorver uma xícara de café preparado com singeleza e carinho. Costumo dizer que Minas é um lugar cheio de encantos, mas o que há de melhor por lá é a sua gente, com o coração do tamanho de um trem!!! 
     Sinto que a tempestade passou e que enquanto eu me abrigava, encontrei amigos que me ensinaram belas lições de vida. Toda tempestade passa e deixa algum estrago, mas até eu ter condições de consertar tudo, ainda me resta apreciar a beleza do arco-íris que se formou no céu diante de mim.