O Diário de Anne Frank
Olá meus poucos e fiéis amigos. Mês passado a minha filha esteve no Japão para fazer um pouco de turismo e me visitar. Trouxe consigo um exemplar de O Diário de Anne Frank. Já fazia algum tempo que eu queria adquirir esse livro, mas a correria do dia-a-dia acabou por fazer com que eu fosse adiando a compra. Gosto muito de ler, mas o estilo de vida que levo aqui, por vezes, me priva desse prazer. Quero agradecer muitíssimo à minha amiga Maura Sposito Esteban pelo presente. Aliás, se for pensar em presente para mim, dependendo do título, o acerto é quase certo!!!
Mas bem, vamos ao livro. Como disse, devido ao meu estilo de vida, li ele aos poucos. Gosto de saborear cada página sem pressa e absorver as impressões ali contidas. Conheço muita gente que lê numa velocidade vertiginosa, mas eu prefiro manter um certo ritmo, mesmo que demande mais tempo. Prefiro não comprometer todo o encantamento do conteúdo. O Diário de Anne Frank foi escrito por uma menina entre seus 14 e 15 anos e retrata o dia-a-dia de oito pessoas que se esconderam em cômodos secretos numa fábrica de temperos durante a Segunda Guerra Mundial. A entrada era camuflada por uma estante e eles viveram ali por cerca de dois anos. Dividiam o espaço, organizaram horários e racionaram comida. O que se percebe numa situação dessas é o que se via nos Big Brothers da vida (guardadas as diferenças de contexto), muitos conflitos, muito estresse e muitos problemas gerados por mal interpretação das intenções do outro. Percebe-se também que a família Frank era um grupo de pessoas cultas e de certo nível social. Tinham uma grande preocupação com a cultura e a aquisição de conhecimento. Anne, por exemplo, tinha conhecimento vasto sobre muitos autores, sobre filosofia, mitologia e escrevia com maestria sobre diversos assuntos como a guerra, política, convivência social e o cotidiano do esconderijo que ela chamava de o anexo. A quantidade de conhecimento adquirida por Anne explica sua destreza para produzir textos tão perturbadoramente perfeitos. Em seu diário, ela desabafa com sinceridade sobre suas ansiedades e sobre todas as coisas que a desagradam no convívio com outras pessoas no anexo, principalmente com relação à sua mãe e Dussel. Difícil imaginar nos dias de hoje, uma menina de 14 anos tecendo críticas aos adultos com tamanha clareza e equilíbrio. O texto se resume em várias cartas escritas para Kitty, sua amiga imaginária, ou poderemos até mesmo dizer que Kitty era o nome que ela teria dado ao diário. Diferente do que possamos pensar sobre o livro, ele não fala propriamente sobre o holocausto, mas faz muitas referências quando Anne cita as notícias que alguém trouxe de fora.
A impressão que tenho é que os dois, ou três últimos capítulos foram manipulados. Os textos são mais longos e densos, mas isso não chega a tirar o mérito da obra. O desconforto, a vida clandestina, o medo e a esperança são descritos na obra com riqueza de vocabulário e nos induz a uma forte reflexão sobre a brutalidade humana. O livro é muito bom, emotivo e realístico, mas não é propriamente um bom passa-tempo. Tem inegavelmente um grande valor histórico. Como digo sempre, li, gostei e recomendo!